01/06/09

Ele há coisas muitos estranhas.

Se há coisa mesmo muito estranha para mim, é haver alguém em Portugal que se dê ao trabalho de ir votar em eleições europeias. Pela ordem inversa, as razões para não o fazer e com isso aproveitar-se um Domingo da vida para qualquer coisa minimamente útil ou prazenteira, não vejo que essas faltem.

Em primeiro lugar, não há razões de princípio. Votar para o parlamento europeu não é um exercício de democracia, porque a democracia (a tal ocidental) assenta na ideia-matriz da representatividade, numa relação primordial entre eleitos e eleitores para o exercício legitimado de um poder. E um deputado europeu não tem poder, não representa nada nem ninguém. Nem o seu grupo, nem o seu partido, nem o seu país, nem a sua propalada europa. Representa, quando muito, a ideia de que, não existindo democracia, o melhor mesmo é fingir que há e criar-se à calhausada, se tal for necessário, um simulacro dela, custe o que custar. E assim se mantém intocável a nossa tradicional superioridade moral.

Em segundo lugar, não há razões programáticas ou ideológicas. Basta ver o que é uma campanha eleitoral para o parlamento europeu e o que é o "programa" eleitoral de cada um dos cabeças-de-lista. Ou seja, basta ver que não existe o que não existe. Tão simples quanto isso. O que se propõe fazer um parlamentar europeu português? O que promete? O que cumpre? O que é isso de "eu vou para lá e..."? O que difere um voto no Bloco de Esquerda ou Partido Comunista Português, aka, CDU, se ambos estarão no mesmo partido, sentados lado a lado, quando por cá fazem tanto por ser tão diferentes?

Talvez para muitos seja estranho, mas sou demasiado defensor da democracia para pactuar com quem brinca com ela assim, em nome de um bom salário a troco de não fazer nenhum, com isenções e bonificações sem fim. Alguém vota nisto?

16/04/09

Do Manchester desde pequenino.

A eliminação do F.C. Porto pelo Manchester United, ontem à noite, em pleno Estádio das Antas, abarrotado de fervorosos e crentes adeptos azuis e brancos, encheu-me de alegria.

E desde já esclareço que fico muito contente de conseguir, com esta afirmação, irritar os tradicionais patriotas à galo de barcelos que acham que temos de defender o futebol português "lá fora" (se calhar o problema é meu, porque eu imagino-me sempre "lá fora" e não tenho nem um pouco deste seu espírito de quintarola). A verdade, se quiserem ir por aí, é que a eliminatória foi ganha por um português que derrotou uma legião de jogadores sul-americanos e o resto é conversa.

Assim, na próxima eliminatória das competições europeias, o F.C. Porto vai jogar contra os mesmos que o Benfica, o Sporting ou o Sintrense: ninguém! Para quem já dizia estar pronto para ganhar a final, isto tem um nome: derrota. Para quem usa os expedientes que usa, isto tem um adjectivo: sem espinhas!

Faltou pouco para passar, dizem os adeptos. É verdade. Que bocadinho é que faltou, então? Precisamente o que teve contra o Benfica para o campeonato no mesmo estádio, quando este ganhava com todo o mérito: um jogador seu a fazer batota ostensivamente e um árbitro perto, pertinho, sem visão obstruída ou dificultada, a dizer que viu o que não viu.

Por essas e por outras, hoje sou do Manchester desde pequenino.

02/03/09

Política sem espectáculo

Queixam-se os media, reclamam os comentadores, bocejam as audiências: o XVI Congresso do Partido Socialista não trouxe novidades nem emoções.

Desta não vez, não se viu uma furibunda Ana Gomes, entretanto domesticada pelo chicote das listas europeias, um sofístico Manuel Alegre, talvez entretido com alguma jantarada com a rapaziada amiga e nem sequer apareceu um qualquer Tino de Rans da vida para animar a festa. Não houve espectáculo.

E não havendo espectáculo parece que não há política.

É esta a reacção unânime dos "opinion-makers" que há à falta de "trouble-makers" ficam sem o que criticar. Limitam-se, então, a criticar a falta de crítica. Como é que pode ter corrido bem, se nada coreeu mal?

Sem cadáveres, morrem à fome os abutres.

PG.