01/06/09

Ele há coisas muitos estranhas.

Se há coisa mesmo muito estranha para mim, é haver alguém em Portugal que se dê ao trabalho de ir votar em eleições europeias. Pela ordem inversa, as razões para não o fazer e com isso aproveitar-se um Domingo da vida para qualquer coisa minimamente útil ou prazenteira, não vejo que essas faltem.

Em primeiro lugar, não há razões de princípio. Votar para o parlamento europeu não é um exercício de democracia, porque a democracia (a tal ocidental) assenta na ideia-matriz da representatividade, numa relação primordial entre eleitos e eleitores para o exercício legitimado de um poder. E um deputado europeu não tem poder, não representa nada nem ninguém. Nem o seu grupo, nem o seu partido, nem o seu país, nem a sua propalada europa. Representa, quando muito, a ideia de que, não existindo democracia, o melhor mesmo é fingir que há e criar-se à calhausada, se tal for necessário, um simulacro dela, custe o que custar. E assim se mantém intocável a nossa tradicional superioridade moral.

Em segundo lugar, não há razões programáticas ou ideológicas. Basta ver o que é uma campanha eleitoral para o parlamento europeu e o que é o "programa" eleitoral de cada um dos cabeças-de-lista. Ou seja, basta ver que não existe o que não existe. Tão simples quanto isso. O que se propõe fazer um parlamentar europeu português? O que promete? O que cumpre? O que é isso de "eu vou para lá e..."? O que difere um voto no Bloco de Esquerda ou Partido Comunista Português, aka, CDU, se ambos estarão no mesmo partido, sentados lado a lado, quando por cá fazem tanto por ser tão diferentes?

Talvez para muitos seja estranho, mas sou demasiado defensor da democracia para pactuar com quem brinca com ela assim, em nome de um bom salário a troco de não fazer nenhum, com isenções e bonificações sem fim. Alguém vota nisto?